Por dentro da L'Origine, a Romanée-Conti Brasileira (pt-BR)
O provável melhor vinho do Brasil
Desde que "pousei” em Espírito Santo do Pinhal, não tiro da cabeça a oportunidade que as pessoas em volta de São Paulo têm, em tomar vinho de alta qualidade, sobretudo dentro das próprias vinícolas daquela região.
Isso há 200km da capital paulista, é um privilégio.
Meses atrás saiu uma matéria no Neofeed sobre "Pinhal” e quando publiquei nas redes, recebi alguns comentários sobre a cidade estar desintermediando o fluxo de “turistas de vinho” de Bento Gonçalves. Errei de fato, em negligenciar a consolidação da cidade gaúcha, que recebe milhares de pessoas todos os meses e produz alguns dos melhores espumantes que eu já tomei na vida. Hoje, Bento é o epicentro de turismo de vinho no Brasil.
Meu comentário foi enviesado mesmo, porque meu interesse por Espírito Santo do Pinhal vai além do vinho.
Explico melhor.
Desde 2023 estou na busca incessante de tomar o melhor vinho brasileiro. E Pinhal tem sido, um laboratório meio "Disneylândia" para mim. Toda semana vou para lá e tento encontrar naquela região, que vem recebendo atenção mundial na produção de vinhos de alta qualidade, um vinho novo, que me surpreenda e que me faça convencer mais pessoas a tomarem vinho brasileiro.
Por lá atualmente, existem cerca de 50 projetos de vinícolas. C.i.n.q.u.e.n.t.a.
Existe notoriamente, um preconceito próprio, sobre a qualidade dos nossos vinhos. Alguns dos principais sommeliers de São Paulo, ainda não conhecem a cidade, mas já ouviram falar sobre, diante do advento da Guaspari, a vinícola que foi primordial para que os vinhos da Serra dos Encontros (SP-MG) fossem reconhecidos. Aliás, alguns vinhos da Guaspari são excepcionais mesmo.
No Brasil vinho é bebida, na Europa é comida
A maioria dos “especialistas” e alguns sommeliers famosos, estão “conflitados”, em recomendar vinhos brasileiros nos restaurantes estrelados do Brasil. Tudo parte do ponto da comissão, margem e dos incentivos que esses recebem. Não vou discorrer sobre isso aqui, mas é um desafio particular dos produtores brasileiros.
Tem também o obstáculo do preço, já que no Brasil, vinho é taxado como bebida alcoólica e compete diretamente com os países que os classificam como alimento processado (Argentina, Chile, Uruguai, Espanha, Portugal e Itália). Essa questão tributária impacta muito, e é por isso que os importados são mais baratos que os brasileiros, no geral.
Mas isso há de se ajustar.
A Romanée-Conti Brasileira
A Guaspari (de Pinhal) é de fato, o maior nome do vinho brasileiro atualmente, ainda mais se tratando de vinho tinto. Estão conseguindo quebrar as barreiras da gastronomia e do turismo. Depois dela, os destinos de Bento Gonçalves e até São Roque (vinhos de mesa, por tradição) foram levemente desviados. Levemente.
A Guaspari sintetiza para mim, que é possível ter uma marca forte para competir com grandes vinhos no mundo. Eles têm uma estratégia até aqui, vencedora, inclusive na alta gastronomia paulista. Provaram que é viável competir em outra “liga”.
Posso citar outras vinícolas brasileiras, que também merecem o reconhecimento de vinho de alta qualidade: Casa Tes, Lidio Carraro, Pioli, Don Laurindo, Maria Maria, Stella Valentino, entre outras que sempre me fazem refletir sobre a capacidade do país em produzir vinhos de alta qualidade.
Isso porque em termos de terroir, clima, altitude e diferentes condições de produção nós podemos garantir. Podem acreditar, em se tratando de vinho brasileiro de qualidade, necessita-se parar agora, com a síndrome de vira-lata usual.
A origem e o começo do movimento
Há algum tempo, acabei bebendo numa festa da cidade, uma taça de vinho da Vinícola L’ Origine e fui arrebatado. Sem exagero. Tive que ir pessoalmente na vinícola para entender com os donos, o que eles estavam fazendo.
E fui.
O casal Tadashi e Maristela, nos receberam e presenciamos com taças na mão, que os dois são a alma e coração da L’ Origine. Só depois desse papo particular, preenchido de histórias reais e do passeio dentro do vinhedo, eu consegui entender o que eles haviam conseguido com as primeiras safras dos vinhos. A vinícola L’O inclusive, tem esse nome, porque é o início de tudo na região.
É a origem.
Espírito Santo do Pinhal e região, já faziam vinho, antes da chegada da Guaspari, mas não nessa qualidade atual. Quem praticamente iniciou esse novo movimento na região (Pinhal, Jacutinga, Andradas, Sto Antônio do Jardim e Albertina) foi um grupo de amigos: Otávio (sobrinho do Murillo Regina - o pai da dupla poda), Edisandro, Cristian Sepulveda (enólogo), André e Roberto Ferrari. Alguns desses inclusive, trabalhavam na Guaspari (!!!).
Esse grupo começou a plantar uvas (na propriedade da L’O) com foco em produzir vinhos de alta qualidade e logo em seguida, foram procurados pela maioria dos produtores da região, para ampará-los na mesma jornada. Começava ali, um movimento.
Uma espécie de corrida do ouro.
A qualidade do vinho da L’ Origine, o melhor vinho brasileiro que já tomei, não é uma mera eventualidade. Aquele lugar foi a gênese de tudo que se tem de melhores práticas nos projetos de vinícolas por lá.
Esse grupo de amigos inclusive, viria mais tarde, a montar sua própria vinícola também, a Terra Nossa e deixaria nas mão do casal Tadashi e Estela, a missão de continuar com uma nova direção na L’O.
Tudo se encaixou.
Todas as visitas que faço com a esposa e amigos na L’ Origine me fazem refletir ainda mais, que existe alguma coisa mágica acontecendo ali naquela propriedade: clima, solo, geografia, dedicação dos donos, o histórico do grupo dos amigos plantando as primeiras videiras de Syrah e Viognier…
Eu ainda não consegui encontrar uma resposta prática.
Recentemente fiz um teste cego com um casal de amigos, que já viajou o mundo atrás de vinhos. Servi de forma “anônima" três garrafas:
1 Valbuena Nº5 Vega Sicília 2019 (Espanha);
1 Château Beychevelle Saint-Julien 2000 (França) e;
1 Syrah L ‘Origine 2019 (Brasil).
A esposa desse casal, ficou 30 minutos duvidando que ela tinha acabado de beber um vinho "brasileiro". E não sabia diferenciar dentre as três taças, qual vinho era melhor.
Esse artigo não é publicidade paga e se você gosta de vinho de verdade, você deveria ir para Santo Antonio do Jardim e ver por dentro de fato, porque a Vinícola L’ Origine é a Romanée-Conti Brasileira.










Olá, excelente comentário, o texto exprime exatamente a história da origem do vinho em ESP, melhor L’Origine, o terroir e a dedicação que os viticultores da região empenham na produção de vinhos de qualidade! E o curioso é que lá se planta uvas e café no mesmo terroir, bastante incomum no resto do mundo! Se ainda não foi, Como sugestão, visite a InnVernia que tem um dos vinhos Clarete de Pinot Noir com uvas produzidas em Santana do Livramento RS, aliás a Campanha é outra região vitivinífera espetacular do Brasil, com vinhos potentes, de personalidade e longevidade! Este vinho “Claret”, é descrito como leve, delicado e vibrante, com notas que misturam frescor e suavidade, um pouco diferente do conceito de Bordeaux na França onde foi difundido! Espero ter colaborado!
Fui lá desacreditando que teriam bons vinhos, depois de experimentar concordo totalmente com esse texto.